segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ESCOLHAS...



Uma pergunta bem clichê que as pessoas costumam fazer é: “se você pudesse voltar atrás, o que você mudaria? O que você não teria feito?” E pensando sobre isso eu cheguei a algumas conclusões. Primeiro, que não podemos voltar atrás. O que passou, passou e não pode ser mudado. A segunda é que não podemos desprezar o contexto em que fizemos determinadas escolhas. Talvez hoje, ao olharmos para trás e depois de termos passado pela situação, façamos uma análise e vejamos que talvez outra decisão, diferente da que tomamos, teria sido melhor. Mas hoje, estamos fora da situação, estamos com olhar distante. Enquanto estávamos envolvidos, talvez a decisão tomada tenha sido a mais certa, a melhor, a que realmente nos proporcionou um momento de alegria e satisfação.
Não podemos desconstruir o caminho que trilhamos. Se nós mudamos o trajeto, se tomamos novos rumos, isso não vai alterar os primeiros passos. Somos resultado dos nossos caminhos. O que nos resta é saber lidar com as consequências das nossas decisões, saber conviver com as lembranças e com as memórias. Não podemos esperar que tudo se apague ou que tudo se conserte tão rapidamente. Há um longo processo para que isso aconteça, pois o passado sempre estará ali. O hoje e o amanhã, daqui a alguns dias, será passado. Temos que fazer do nosso passado uma boa lembrança, da qual não sintamos a necessidade de nos arrependermos. Para isso, precisamos viver bem o nosso presente, ele será o passado que recobraremos no futuro. Nossas escolhas hoje dirão muito sobre nós daqui em diante.
            Para que não precisemos nos arrepender do dia de hoje, devemos procurar pensar antes dos nossos atos, decidir ser feliz da forma mais honesta e decidir fazer com que as pessoas que convivem conosco também sintam alegria em estar perto de nós. O amor deve ser dado, deve ser demonstrado. Amizades devem ser cultivadas e cuidadas. Façamos do nosso caminho um trajeto que não precise ser interditado, que lembranças não precisem ser apagadas e que um retrospecto seja motivo de gratidão e não de arrependimento. Nossas escolhas nos definem.  

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Algumas pessoas só querem ser ouvidas



Eu estava na parada de ônibus após sair da universidade, como faço costumeiramente no horário do meio dia. Peguei o ônibus, que naquele momento encontrava-se relativamente lotado, e procurei um lugar do lado da janela em que eu pudesse sentar para assim poder colocar meus fones de ouvido e dessa forma apagar todo o barulho exterior: conversas irrelevantes, a rádio tocando as clássicas músicas do rei e o barulho da lataria velha do ônibus. Olhei para todas as cadeiras e todas as que eu procurava estavam ocupadas. Um pouco atarantada, tentando organizar minha bolsa e ao mesmo tempo tentando equilibrar-me, tendo vista que o ônibus já havia entrado em movimento, um senhor de cabelos bem grisalhos me oferece a cadeira que se encontrava vazia ao seu lado. Certamente, ali não seria um lugar que eu escolheria sentar, pois não tinha janela, mas aceitei a boa gentileza daquele senhor, não custaria nada sentar ali por míseros quarenta minutos do meu dia. Sentei e tentei aceitar aquele lugar apertado e quente: estiquei as pernas, coloquei o caderno embaixo da bolsa e fui tentar iniciar a leitura de uma pequena apostila que eu carregava comigo.
 O ônibus tremia muito e o barulho começou a se tornar um pouco insuportável. Pensei em abrir minha bolsa e tirar meu celular e meus fones e seguir com meu hábito que é quase um ritual no coletivo, mas quando volto meu olhar para o meu companheiro de viagem, reparo que ele me observa com um olhar muito questionador. Seus ombros são caídos e seus olhos não demonstram tristeza ou cansaço por causa da idade, mas ele continua me olhando como se procurasse algo em mim. Eu me incomodo e volto atrás da decisão de colocar os fones. Procuro outra distração, olho para o vidro que me tranca pelo lado esquerdo e tento admirar a paisagem, a mesma paisagem que vejo seis vezes por semana há quatro anos.
 Quando penso que estou segura por saber que estou em um território conhecido e que meu silêncio não dá abertura a nada, sou surpreendida com uma pergunta que estremeceu meu coração. Ele me perguntou se eu era estudante. A resposta saiu quase emudecida pelo meu medo. Os olhos daquele homem penetram os meus, parece que ele já sabia a resposta, e ele nem se importou com minha resposta, olhou à frente e começou a falar sobre uma reportagem vista no dia anterior. Ele nem quis saber se eu tinha conhecimento ou não da tal reportagem (tratava da história de um rapaz que teve que trabalhar a vida toda como vendedor de balas e que havia se formado em medicina), mas ele continuava falando.
Enquanto eu observava seus lábios mexendo, sua boca abrindo e fechando revelando uns poucos dentes amarelados que lhe restaram após longos anos, enquanto eu me esforçava para entender suas palavras, comecei a pensar no quanto deixamos de simplesmente ouvir as pessoas. A rapidez com que andamos e a quantidade de deveres que temos que cumprir fez com que deixássemos de ouvir o que as outras pessoas têm a nos dizer. Muitas vezes estamos tão concentrados lendo as mensagens no celular que deixamos até de atentar a um “bom dia” que alguém nos deseja ao passar por nós, e nem se quer levantamos o olhar para responder e desejar de fato um bom dia a alguém, apenas respondemos como uma forma de “educação” já internalizada em nossa cultura. Ele continuava falando, me contando um pouco da sua história, sobre como começou a estudar, sobre seu emprego, sobre como conseguiu vencer na vida, mesmo com pouco estudo, sobre as honras que seu esforço tinha lhe oferecido. Ele não se importava se eu estava ou não entendendo ou querendo ouvir o que ele estava dizendo, ele apenas queria falar, queria dizer para alguém o quanto que a leitura havia lhe ajudado. Ele olhou nos meus olhos, segurou no meu antebraço que estava esticado enquanto eu me segurava na cadeira da frente e me disse que quando eu tivesse um tempinho, deveria ler um livro, mesmo que não fosse um dever meu. Ele não sabia que eu seria uma professora, e de literatura, e que os livros são meus companheiros de jornada, mas ele queria dizer para alguém: “leia”.

Enquanto eu estava perdida nesses pensamentos e enquanto ele falava, sua parada se aproximava e ele começou a se levantar para descer. Eu percebi que eu precisava saber quem ele era apesar de ele se quer ter perguntado o meu nome. Quase que de uma forma desastrada perguntei seu nome. Ele se espantou com essa atitude e me disse seu nome completo como se eu indagasse o motivo daquela conversa, ou como se ele precisasse dizer seu nome para preencher um cadastro. O ônibus fez um barulho horrível ao frear e eu não consegui ouvir como ele se chamava. Mas nem preciso saber, o que eu precisava entender eu já havia entendido: algumas pessoas só querem ser ouvidas. 



terça-feira, 3 de novembro de 2015

"A dor precisa ser sentida"

No início desse ano, me deixei levar pelo desejo de ler o livro A culpa é das estrelas, do escritor John Green. O livro é bem interessante e a história trágica se tornou um ícone da expressão do amor verdadeiro entre duas pessoas, o amor que transcende a vida.  Mas o que mais me chamou a atenção não foi o fato de como Harzel Grace e Augustus Waters se amaram, ou como eles descobriram o amor, mas sim o fato de como eles conseguiram conviver com a dor. A dor emocional e a dor física por diversas vezes se confundem na trama. Eles sabiam que seria arriscado demais embarcar num namoro em que ambos poderiam deixar de existir a qualquer momento. Mas mesmo com este problema, eles juntaram forças e foram levando o relacionamento. Mas a frase "a dor precisa ser sentida" ficou ecoando dentro de mim por muitos dias...
A dor realmente precisa ser sentida? Me perguntei várias vezes... Pensei nas razões que levariam uma pessoa a desejar a dor, sentir como uma necessidade. As dores emocionais, que habitam o coração, a alma e o pensamento, são as que de certa forma mais nos perturbam, são dores que não sangram e que por esta razão são difíceis de serem localizadas. Essas dores são traiçoeiras, quando pensamos que elas já se foram, retornam em uma canção, em um cheiro no ar, em uma foto, em um livro... Percebemos então que acobertar uma dor não é o suficiente para que ela sare, é preciso senti-la, deixá-la ferir, arder... A dor tem suas fases e precisamos respeitar  cada uma delas. Quando aprendemos a senti-la, percebemos que também aprendemos a dominá-la. O que seria do poeta sem uma boa dose de dor? O que seria da alegria, se não houvesse um pouco de dor e tristeza?  Pois só valorizamos a alegria quando a perdemos... Como uma frase que li na avenida Frei Serafim "o preço do sorriso só quem chorou sabe o custo".
 Ah a dor... a dor quando é sentida nos ensina a crescer, nos sensibiliza...
Para nosso grande poetinha, Vinícius de Moraes, "o amor só é bem grande se for triste..." quando sentimos a dor da saudade, da solidão, da perda... 
A dor nos revela quem realmente somos. A dor nos expõe, nos coloca pra fora, nos deixa vulneráveis... mas nos faz crescer. Celebremos as nossas dores, celebremos nosso amores, celebremos nossos AMADORES!


Catarse... a purificação

Pensei em criar este blog para libertar de mim as palavras que ficaram presas na garganta e na alma com o passar do tempo. Pensei em diversos nomes, quando me deparei com a minha real intenção...  Pensei em como as palavras poderiam me dar a liberdade que eu realmente preciso. Catarse, a cura pela fala, segundo Freud, é a palavra que define o que sinto e o que quero... Quero que as palavras saiam de mim e atinjam os corações, as mentes de quem as ler... mesmo que ninguém as leia, quero que essas palavras ganhem corpo, ganhem forma, ganhem sentido fora de mim. 
Que as palavras não mais me prendam, não mais me amarrem, mas que me libertem. Viva a Catarse! Viva a libertação pela palavra!