Em cinco
de maio de mil novecentos e noventa e quatro, um lindo passarinho alçou voo para
nunca mais voltar... Morria o escritor Mario Quintana. Poeta humilde que falava de
coisas simples. Até mesmo sua morte, momento que foi
ofuscado pela passagem de outro grande nome, Ayrton Senna, revelou sua simplicidade.
Conheci Mario Quintana de uma forma muito linda, quando eu tinha 10 anos de idade. Minha família não tinha qualquer assinatura de jornal impresso, mas um dia, entro em casa e em cima da mesa vejo um. Folheio, principalmente para procurar imagens ou até mesmo a seção de piadas e de repente, em uma das páginas, vejo um texto de Quintana, era uma linda reflexão sobre o tempo e foi ali que li pela primeira vez li a frase:
Conheci Mario Quintana de uma forma muito linda, quando eu tinha 10 anos de idade. Minha família não tinha qualquer assinatura de jornal impresso, mas um dia, entro em casa e em cima da mesa vejo um. Folheio, principalmente para procurar imagens ou até mesmo a seção de piadas e de repente, em uma das páginas, vejo um texto de Quintana, era uma linda reflexão sobre o tempo e foi ali que li pela primeira vez li a frase:
“o
segredo não é correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas
venham até você”.
Fiquei encantada.
Já
em outro momento da vida, após ter adquirido mais maturidade literária,
encontrei-me novamente com Quintana e dessa vez, deixei-me inebriar por suas
palavras, seus pensamentos e seus poemas... Como não se sentir apaixonada por tão belas
palavras: lindas interpretações daquilo que via e presenciava. Poeta é aquela
pessoa que consegue exprimir através de palavras aquilo que nós não
conseguimos, apenas sentimos. Como não fechar os olhos e sentir por dentro a
emoção de poder reproduzir “tão bom morrer de amor e continuar vivendo”.
Quantas pessoas já cultivaram amizades eternas com a frase “amizade é um amor
que nunca morre”. Quantos já expressaram a urgência de amar dizendo “a vida é
breve, e o amor mais breve ainda”.
Quintana
pedia, implorava em suas palavras para que jamais fosse esquecido, e se caso
isso viesse a acontecer que pudesse ser “bem devagarinho”.
Quanto mais lemos
Quintana, mais temos vontade de ler. As palavras de fáceis interpretações, as
verdades mais latentes e a delicadeza dos sentimentos estão impressas em cada
verso, em cada poema, em cada reflexão. É difícil não se apaixonar, falo por
experiência própria. Sabe quando encontramos alguém que faz poesia até dos
infortúnios? Encontrei esse alguém em Quintana. Já com a idade avançada, sem
nenhum familiar que pudesse lhe dar abrigo, o poeta gaúcho foi morar em um pequeno
apartamento emprestado. O local era bem pequeno mesmo. Uma repórter, intrigada
com aquela situação, perguntou-lhe se não se sentia mal por morar em um lugar tão
apertado. Quintana respondeu:
“Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto
seja pequeno. É bom assim, tenho menos lugares para perder as minhas coisas”.
Podemos
ainda notar a simplicidade de Quintana quando, após três tentativas frustradas de se
tornar um imortal da Academia Brasileira de Letras, inocente diante de todos os
meandros políticos que há por trás dessa grande instituição, respondeu de forma
bem humorada a todos aqueles que atrapalharam seu sonho:
Todos
estes que aí estão
Atravancando
meu caminho
Eles
passarão...Eu passarinho!
Um
dia, esse pássaro alçou voo. Mas pediu delicadamente a todos que não consultassem os
relógios quando esse dia chegasse. Para Quintana “o tempo é uma invenção da
morte”. Chegou o dia em que ele “acabou”. Sua maior tristeza não era morrer,
mas sim deixar de viver. Mas suas poesias, seus sonhos e seu legado perpetuam
no coração de seus leitores e admiradores.
Quando
morremos, acontece com as nossas esperanças o mesmo que com esses brinquedos de
estátuas, em que todos se imobilizam de súbito, cada qual na posição do
momento. Mas as esperanças têm menos paciência. E vão imediatamente continuar
no coração dos outros, o seu velho Sonho Interrompido.
(Mario Quintana)