domingo, 4 de dezembro de 2016

De Chapecó a São Luís: um país que chora

Haja coração para suportar tanta notícia infortuna em um curto espaço de tempo. Não dá para se manter inerte ante à perda sofrida esses últimos dias. O Brasil, definitivamente, está de luto.
A pior parte da perda é a ausência. Olhar o que estava ali e de repente saber que não estará mais fisicamente. Mas o que conforta o coração de quem fica é a lembrança, aquilo que ninguém apaga e nem desconstrói.
            O futebol guardou seus foguetes, baixou suas bandeiras e silenciou seus gritos de comemoração e deu lugar às lágrimas, à dor e à tristeza... A literatura, por sua vez, ficou sem palavras...
            A tragédia que aconteceu ao Chapecoense nos pegou de jeito também. Aquele avião caiu em nossos corações e destroçou nossos sentimentos. De repente tínhamos dentro de casa apenas as lembranças de pessoas que talvez antes nem conhecíamos e nos arrependemos de não os ter conhecido antes, e quando tivemos a oportunidade, eles já tinham ido. Vimos que o futebol não é só um jogo, mas sim uma paixão, um elo capaz de unir pessoas, sem levar em consideração as rivalidades. Não era difícil encontrar quem conversasse sobre o tal ocorrido, parecia que todos agora tinham algo em comum, como se todos tivessem perdido o mesmo parente.
            Todos os canais de televisão pareciam não querer competir em relação às suas programações... onde quer que estivéssemos, éramos todos chapecoenses...
E foi no meio desse turbilhão de emoções que silenciosamente perdemos Ferreira Gullar... sem alardes, sem previsões... a notícia também nos chegou de supetão: quem imaginaria que um avião cairia em uma madrugada levando um time inteiro de futebol? Da mesma forma, quem imaginaria que num domingo de manhã a poesia nos fosse levada? Talvez a ida desse brilhante poeta seja uma gota ante ao mar de sofrimento dessa semana, mas sabe aquela gota que faz a água do copo transbordar? Pois é, hoje transbordei...
É até irônica a forma como os poetas se vão... silenciosos.
Eles não movimentam uma nação, não unem tantas pessoas em um só lugar, não gritam em alto e bom som... mas dizem muito e dizem tudo! É como se eles buscassem manter, até mesmo na morte, a delicadeza da poesia e ir assim, de mansinho, como se quisessem dizer: minha morte não precisa ser tão notada... note o que fiz em vida!
Não foi fácil receber a notícia da partida de Gullar, não é fácil sentir que mais uma de nossas mentes pensantes e poetas brilhantes está indo embora e nos deixando de herança tudo o que possuía: a genialidade e delicadeza com as palavras.
Sabe aquilo de que no Brasil um poeta só é valorizado ao morrer? Pois é, quem sabe agora muitos passem a conhecer esse grande nome da nossa literatura, que antes de morrer fez um singelo pedido: “quero entrar no mar e ir embora”. E assim foi... Entrou no mar de caos em que estamos inseridos e de mansinho deu seu último mergulho. 


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